
Durante anos, o nome Anésio Ribeiro Santos Filho, mais conhecido como Black Power, foi sinônimo de solidariedade em Itapetinga. Aos 47 anos, o barbeiro que conquistou a cidade com o famoso “corte de cabelo por R$ 1” vive hoje distante da mídia, enfrentando dificuldades que contrastam com o passado de generosidade que o tornou uma figura emblemática da comunidade.
Natural de família humilde, Anésio iniciou sua trajetória profissional como barbeiro e, rapidamente, ficou conhecido por seus preços acessíveis e pela atenção com os moradores de todas as idades. Sua barbearia, localizada na Travessa Paraíba, na Nova Itapetinga, funcionava quase como um ponto de acolhimento: crianças, jovens e idosos eram atendidos muitas vezes de forma gratuita.

Mas o impacto de Black Power foi muito além da tesoura e da navalha. Ele se tornou referência em ações sociais, promovendo campanhas de arrecadação de alimentos, brinquedos, leite e peixes para distribuição em datas comemorativas como Dia das Crianças, Páscoa, Dia das Mães e Dia dos Pais. Sua residência se transformava em um verdadeiro centro de solidariedade, abarrotada de doações que ele mesmo organizava e entregava.
Com carisma e forte ligação com o povo, Black Power também se aventurou na política. Em sua primeira candidatura a vereador pelo Partido Verde (PV), surpreendeu: obteve mais de 700 votos e só não foi eleito por conta do quociente eleitoral. Em eleições seguintes, porém, o apoio popular diminuiu. Em 2024, por exemplo, teve apenas 7 votos, uma queda brusca que refletiu também em sua visibilidade pública.

Hoje, longe da vida política e das campanhas sociais que marcaram sua trajetória, Black Power é visto com frequência recolhendo materiais recicláveis pelas ruas da cidade. O contraste entre o passado solidário e o presente de dificuldades acende um alerta: o que aconteceu com o homem que tanto ajudou? Onde estão os que um dia foram beneficiados por suas ações?
O esquecimento de figuras como Black Power levanta questões importantes sobre memória coletiva, gratidão e responsabilidade social. Seu exemplo continua vivo na história de Itapetinga, mas ele próprio, o ser humano por trás do personagem, agora precisa ser lembrado — e amparado.
Por Sizinio Neto (reportagem), com Cloves Silva (edição)